terça-feira, 23 de setembro de 2008

Gilberto Freyre, René Ribeiro e o Projeto UNESCO

Gilberto Freyre, René Ribeiro e o Projeto UNESCO
Roberto MOTTA, Ph.D
Univ. Federal de Pernambuco

Indicação da estudante Clara de Brito Domingos



Resumo

O projeto UNESCO contesta o paradigma da democracia racial, associado a Gilberto Freyre, em suas bases de epistemologia e filosofia da história. Entretanto, ainda num momento de transição entre paradigmas, Gilberto Freyre é convidado a participar do projeto em Pernambuco, delegando sua realização ao antropólogo recifense René Ribeiro, que segue as teses fundamentais de Freyre sobre o caráter nacional português. Mas Ribeiro é discípulo de Melville Herskovits, utilizando, em Religião e Relações Raciais, o conceito de foco cultural, através do qual reinterpreta o papel da religião. Ribeiro sofre também influências de Roger Bastide, destacando a romanização do catolicismo brasileiro. Ainda que, em certos trechos, próximo de Florestan Fernandes, Ribeiro não adere à revolução paradigmática que se configura na maior parte dos ensaios resultantes do Projeto.

Introdução

A realização do projeto UNESCO sobre relações raciais no Brasil, nos primeiros anos da década dos 50 do século XX, veio, como se sabe, a representar uma revolução nos estudos sobre o tema. O paradigma da “democracia racial”, associado a Gilberto Freyre, por algum tempo valorizado por causa de sua oposição acintosa às teses do nacional-socialismo, é contestado nas bases epistemológicas, na filosofia da história e no programa social e político nele implícitos. Entretanto, ainda num momento de transição, Gilberto Freyre é convidado a participar do projeto em Pernambuco, delegando sua realização ao antropólogo recifense René Ribeiro. Essa participação resulta no livro Religião e Relações Raciais. [1] Ligado a Gilberto por laços de caráter pessoal e institucional, René, apesar do uso ocasional de uma metodologia marcadamente indutivista, que não combina com o estilo do mestre, retoma suas teses fundamentais, associadas ao caráter nacional português e ao Catolicismo colonial, aplicando-as ao Nordeste de meados do século XX sob a forma do conceito de etiqueta racial. Como cientista social, no sentido mais estrito e mais “positivista” da expressão, René Ribeiro denota também afinidade, que se manifesta, por exemplo, na ênfase atribuída a conceitos com ajustamento e alternativas culturais [2] , com Donald Pierson, do qual, como diz em documento autobiográfico REF, travou conhecimento na década de 40. Mas Ribeiro é também ligado a Melville Herskovits, de quem foi aluno nos Estados Unidos, utilizando, em Religião e Relações Raciais, a noção de foco cultural, através da qual reinterpreta o papel atribuído à religião. Ribeiro sofre ainda a influência de Roger Bastide, do qual adota a teoria da romanização do Catolicismo brasileiro. Mas apesar de próximo, em certos trechos, a Florestan Fernandes, Ribeiro não adere à revolução paradigmática que se configura na maior parte dos ensaios resultantes do Projeto UNESCO.

leia o artigo completo em http://www.ceao.ufba.br/unesco/07Paper-Motta.htm

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